As Testemunhas de Jeová e os Direitos Humanos

Norman Hovland


Ocasionalmente a literatura das Testemunhas de Jeová publica artigos sobre os Direitos Humanos. Isto só ocorre quando elas acham que estão a ser prejudicadas (alguém está a violar os direitos delas). A edição de 22 de Novembro de 1998 da revista Despertai!, dedicou 14 páginas a este tema [nota: a revista tem 32 páginas, portanto foi quase metade da edição!].

O leitor informado nota logo na capa da revista o primeiro problema sério. A revista pergunta "Haverá algum dia direitos humanos para todos?" Qualquer pessoa familiarizada com a doutrina da Watchtower sabe que isto é uma referência subtil ao "Reino" futuro. Como é costume, a revista omite completamente como é que este "Reino" assumirá o poder. Não é mencionada uma doutrina central da Watchtower que é o orgulho e a alegria de todas as TJ fiéis, nomeadamente, o genocídio sem precedentes que ocorrerá para tornar o "Reino" da Watchtower possível. E é claro que a Despertai! não está interessada em mencionar a Convenção contra o Genocídio, que pode ser resumida nestas palavras:

"Convenção contra o Genocídio
Esta convenção proíbe actos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Declara que o genocídio é um crime sob lei internacional, seja cometido durante tempo de guerra ou de paz, e vincula todos os signatários da convenção a tomar medidas para prevenir e punir quaisquer actos de genocídio cometidos dentro da sua jurisdição. A convenção proíbe o acto de matar membros de qualquer grupo racial, étnico, nacional ou religioso por motivo de pertencerem a esse grupo, proíbe o acto de causar dano corporal ou mental grave a membros do grupo, infligir aos membros do grupo condições de vida que visem destruí-los, impor medidas que visem impedir nascimentos dentro do grupo, e tirar os filhos de membros do grupo e dá-los a membros de outro grupo." (Fonte: http://www.hrweb.org/legal/undocs.html)

Por outras palavras, os Direitos Humanos à moda da Watchtower começarão com a pior violação de Direitos Humanos na história da Humanidade. E é claro que isto torna o Deus da Watchtower no pior violador dos Direitos Humanos que alguma vez existiu. Isto faz algum sentido?

A revista Despertai! apresenta alguma informação de carácter geral sobre a história dos Direitos Humanos e nas páginas 8-10 faz um ponto da situação sobre os Direitos Humanos hoje.

A revista cita o artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Nascem dotados de razão e consciência e devem agir uns para com os outros num espírito de fraternidade."

A Sociedade Torre de Vigia e os seus seguidores fiéis violam de forma grosseira este princípio porque obviamente não tratam as pessoas que não são da sua religião dessa maneira. E é claro que o Deus da Watchtower não se importa muito com os direitos dos que não são TJ.

A Despertai! também menciona o artigo 4:

"Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas."

Que dizer de todas as pessoas que são mantidas em servidão pela Watchtower, que tomou como reféns as suas famílias e amigos e mantém pessoas escravizadas sob ameaça de desassociação e de condenação ao ostracismo?

Quando a revista menciona o artigo 18, a situação torna-se mesmo trágico-cómica. O artigo 18 diz:

"Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou de crença, e a liberdade para manifestar a sua religião ou crença em ensino, prática, adoração e observância, individualmente ou em comunidade e em público ou em privado."

Incrível, não acham? O que acontece a uma Testemunha de Jeová que muda de religião? Será que Brooklyn e os seus seguidores respeitam esse direito? Ou em vez disso implementam sanções (represálias) contra tal pessoa? Na mente das TJ, só os Católicos e outros têm este direito, e só no caso de mudarem de religião para se tornarem TJ. Depois de eles se tornarem TJ, este direito desaparece.

O próximo artigo que a Despertai! menciona, o artigo 23, também é muito interessante. Em vez de citar apenas a última parte do artigo, como a revista faz, vou citar o artigo completo:

"(1) Toda pessoa tem direito a trabalhar, escolher livremente o seu trabalho, condições de trabalho justas e favoráveis e protecção contra o desemprego.

(2) Toda pessoa, sem qualquer discriminação, tem direito a salário igual por trabalho igual.

(3) Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e complementada, se necessário, com outros meios de protecção social.

(4) Toda pessoa tem direito a formar e a aderir a sindicatos para a protecção dos seus interesses."

Olhando para a secção (1) do artigo 23, compreendemos a razão porque a Despertai! não o quis citar. Será que as TJ podem "escolher livremente o seu trabalho"? Será que podem trabalhar para Igrejas, para instituições militares, etc., sem sofrer represálias por parte de Brooklyn? É claro que não. Quanto paga a Watchtower aos que trabalham em Betel? E quantos sindicatos têm eles representados em Betel? A Watchtower não se pode orgulhar das suas acções no que diz respeito aos Direitos Humanos.

A revista cita também o artigo 25:

"(1) Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação e cuidados médicos e serviços sociais necessários, e o direito à segurança na eventualidade de ficar desempregado, doente, inválido, viúvo, idoso ou com falta de outros meios de subsistência devido a circunstâncias para além do seu controlo.

(2) A maternidade e a infância têm direito a cuidado e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do casamento, gozarão da mesma protecção social."

Conforme todos sabemos, é negado às famílias das TJ o direito a decidir que tipo de tratamento médico pretendem. Outra violação dos direitos humanos.

Que dizer de todos os artigos que a revista não menciona? Que dizer, por exemplo, do artigo 5:

"Nenhuma pessoa será sujeita a tortura ou tratamento ou castigos cruéis, desumanos ou degradantes."

Que dizer dos julgamentos à porta fechada, feitos pela Watchtower? E as práticas da desassociação e da condenação ao ostracismo [nenhuma TJ pode falar com alguém que foi excomungado pela seita]?

O artigo 8 é importante para qualquer pessoa que queira responsabilizar a Watchtower pelas suas muitas violações dos direitos humanos:

"Toda pessoa tem o direito de uma reparação efectiva pelos tribunais nacionais competentes, por actos que violem os direitos fundamentais que lhe são garantidos pela constituição ou pela lei."

Como é que a Watchtower respeita o artigo 10?

"Toda pessoa tem direito em igualdade absoluta a uma audição justa e pública, por um tribunal independente e imparcial, na determinação dos seus direitos e obrigações e em qualquer acusação criminal feita contra ela."

Será que os tribunais à porta fechada que a Watchtower faz [reuniões judicativas] respeitam estes direitos? Será que as TJ têm direito a "uma audição justa e pública, por um tribunal independente e imparcial"? Todos sabemos a resposta a esta pergunta.

Que dizer do artigo 12:

"Ninguém será sujeito a interferência arbitrária com a sua privacidade, família, lar ou correspondência, nem a ataques à sua honra ou reputação. Toda pessoa tem direito à protecção da lei contra tal interferência ou ataques."

Será que as TJ têm este direito? Será que a Sociedade Torre de Vigia ou os seus anciãos respeitam isto?

E como é que a Sociedade Torre de Vigia respeita o artigo 19:

"Toda pessoa tem direito a liberdade de opinião e de expressão; este direito inclui liberdade de ter opiniões sem interferência [de outros] e procurar, receber e partilhar informação e ideias através de qualquer meio e independentemente das fronteiras."

Será que as Testemunhas de Jeová têm "liberdade de opinião e de expressão"? Pode uma TJ expressar opiniões contrárias às que vêm de Brooklyn, sem sofrer represálias? Pode uma TJ "procurar, receber e partilhar informação" sem interferência de Brooklyn? Como é que a Watchtower encara a primeira parte do artigo 21?

"(1) Toda pessoa tem o direito a tomar parte no governo do seu país, directamente ou através dos seus representantes, livremente escolhidos."

O que acontece a uma Testemunha de Jeová que tente exercer este Direito Humano? Bem, todos sabemos a resposta, não é verdade?

Depois, na página 11, a Despertai! declara que os Direitos Humanos para todos são uma realidade mundial! Segundo a revista, o crédito por isto vai para um programa de educação, não governamental, que está a decorrer por todo o mundo e é feito (adivinhe por quem!) pelas Testemunhas de Jeová, em 230 países!! Segundo a revista, isto deve-se a uma "fonte superior". O problema com este raciocínio é que esta "fonte superior" é precisamente a mesma que vai supostamente provocar o tal genocídio sem precedentes, "muito em breve, a qualquer momento".

Nesta parte da revista parece que os Direitos Humanos se limitam à harmonia entre as raças e ao não envolvimento nas guerras. Depois é introduzida a velha palavra de código para o "Reino" milenar: "governo mundial". Mais uma vez, não é dita nem uma palavra sobre como este "governo mundial" será implementado. A revista conclui dizendo que, se o leitor quiser saber quanto tempo falta para este "governo mundial" se tornar numa realidade, deve permitir que as Testemunhas de Jeová estudem consigo, e obterá uma resposta satisfatória. Sim, sim, está-se mesmo a ver!

Conforme foi demonstrado e documentado acima, a Sociedade Torre de Vigia não se importa minimamente com os Direitos Humanos. Está constantemente a violá-los. O único interesse que Brooklyn tem por esses direitos é quando pode utilizá-los em proveito próprio, para obter benefícios. Conforme vimos, eles não querem de maneira nenhuma deixar os seus membros usufruir esses direitos.


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