Violência e Sexo

Norman Hovland


Em inúmeros artigos, a literatura da Torre de Vigia repete a cantilena de que eles abominam a violência e o "sexo ilícito", etc. Particularmente nos artigos sobre música "não salutar" como o rock, e mais recentemente o rap, podemos encontrar as expressões mais horrorizadas. Em particular, eles estão "preocupados" com o alegado efeito que isto pode ter sobre os jovens.

"Que dizer, então, se o cristão ouve músicas que incentivam violência, racismo, imoralidade, adoração do Diabo e suicídio? Efésios 5:3, 4 especifica: "A fornicação e a impureza de toda sorte, ou a ganância, não sejam nem mesmo mencionadas entre vós, assim como é próprio dum povo santo; nem conduta vergonhosa, nem conversa tola, nem piadas obscenas, coisas que não são decentes, mas, antes, ações de graças." Sim, aqueles que desejam ter amizade com Jeová não podem fazer de assuntos perniciosos sua diversão. Não arrazoam que, desde que não façam essas coisas más, não há nada demais em se divertir com elas." (Despertai!, 8 de junho de 1993, p. 8)

Um leitor bem informado evidentemente interrogar-se-á sobre quão interessada a Sociedade Torre de Vigia realmente está em proteger os seus jovens de tais textos de violência, racismo, etc. Porquê? Bem, em primeiro lugar, a literatura da Torre de Vigia está cheia de ódio e de ameaças de violência extrema contra aqueles que não concordam com o Corpo Governante da Sociedade Torre de Vigia. Todas as pessoas que não são Testemunhas de Jeová, e em particular as ex-Testemunhas de Jeová, são "convidadas" para uma grande festa, não como convidados mas "como prato principal" (A Sentinela, 1.º de julho de 1994, p. 13, §16). Parece-me ser uma coisa bastante sangrenta.

A Bíblia, que é tida em tão alta estima e encarada como uma leitura muito boa para os jovens cristãos, contém histórias que fazem os textos das canções de rock e de rap parecerem insignificantes em comparação. Consideremos, por exemplo, a história em Juízes capítulo 18:

"Naqueles dias não havia rei em Israel. E naqueles dias, a tribo dos danitas procurava para si uma herança para nela morar; pois, até aquele dia não lhes havia caído nenhuma herança no meio das tribos de Israel." (Juízes 18:1)

"Portanto, os cinco homens prosseguiram e chegaram a Laís, e viram como o povo que havia nela morava confiante em si, segundo o costume dos sidônios, sossegado e insuspeitoso, e não havia conquistador opressivo que molestasse coisa alguma no país, ao passo que se achavam longe dos sidônios e não tinham nada que ver com a humanidade." (Juízes 18:7)

Estes danitas encontraram um povo sossegado e insuspeitoso, vivendo em paz e liberdade. Que fizeram os danitas a seguir? Eles ficaram muito felizes, porque esse povo gentil e pacífico não ofereceria muita resistência, portanto eles decidiram assassiná-los a todos e tomar a sua terra:

"Quanto a eles, tomaram o que Micá tinha feito, bem como o sacerdote que se tornara seu, e foram para Laís, contra um povo sossegado e insuspeitoso. E passaram a golpeá-los com o fio da espada e queimaram a cidade com fogo. E não houve quem [os] livrasse, pois era longe de Sídon e não tinham absolutamente nada que ver com a humanidade; e achava-se na baixada que pertencia a Bete-Reobe. Construíram então a cidade e passaram a morar nela." (Juízes 18:27-28)

Um povo realmente amoroso, estes israelitas, não acha?

Mas há mais destas histórias "sadias e edificantes" nesta altamente recomendável "palavra de Deus". Tome por exemplo a história no livro de Juízes sobre o levita que veio à cidade de Gibeá no território da tribo de Benjamim:

"22 Enquanto faziam seus corações sentir-se bem, eis que homens da cidade, homens imprestáveis, cercaram a casa, empurrando-se um ao outro contra a porta; e diziam ao homem idoso, o dono da casa: "Traze para fora o homem que veio à tua casa para que tenhamos relações com ele." 23 Em vista disso, o dono da casa saiu a ter com eles e disse-lhes: "Não, meus irmãos, por favor, não cometais nenhum mal, visto que este homem entrou na minha casa. Não cometais esta ignominiosa insensatez. 24 Eis a minha filha virgem e a concubina dele. Por favor, deixai-mas trazer para fora, e violentai-as e fazei com elas o que for bom aos vossos olhos. Mas não deveis fazer a este homem tal coisa ignominiosa, insensata."

"25 E os homens não quiseram escutá-lo. Portanto, o homem agarrou a sua concubina e levou-a para fora a eles; e eles começaram a ter relações com ela e continuaram a abusar dela a noite inteira, até à manhã, mandando-a depois embora quando subiu a alva. 26 A mulher veio então por volta do amanhecer e caiu à entrada da casa do homem onde se achava seu amo -- até a luz do dia. 27 Mais tarde se levantou seu amo, de manhã, e abriu as portas da casa e saiu para se pôr a caminho, e eis a mulher, sua concubina, caída à entrada da casa com as suas mãos sobre o limiar! 28 Disse-lhe, pois: "Levanta-te e vamos." Mas não houve quem respondesse. O homem a pôs então sobre o jumento, e se levantou e foi para seu lugar.

"29 Entrou então na sua casa e tomou o cutelo, e agarrou sua concubina e cortou-a em doze pedaços, conforme os seus ossos, e enviou-a a todo o território de Israel. 30 E sucedeu que todo aquele que viu isso disse: "Nunca aconteceu tal coisa nem se viu desde o dia em que os filhos de Israel subiram da terra do Egito até o dia de hoje. Fixai nisso os vossos corações, aconselhai-vos e falai."" (Juízes 19:22-30)

Tenho a certeza de que os escritores das canções de rap e rock poderiam vir buscar a esta história muitas idéias suculentas. Note o imenso respeito que o "povo escolhido de Deus" tinha pelas mulheres. Não hesitavam antes de oferecerem as mulheres à multidão. A compaixão e respeito do levita pelas mulheres também foram demonstrados na manhã seguinte quando ele a encontrou caída à entrada da casa, morta. "Levanta-te e vamos", foram as palavras de compaixão dele. Ficamos a pensar por que será que ele não a repreendeu por se ter esquecido de preparar o pequeno almoço dele. Depois de a ter levado para casa, ele cortou-a aos pedaços com um cutelo e enviou os pedaços às várias tribos.

Seguiu-se uma guerra civil com grandes baixas de ambos os lados, mas finalmente o resto de Israel conseguiu destruir a cidade de Gibeá. Mas a história não acaba aqui, a carnificina ainda não tinha terminado de modo nenhum. Ocorreram muito mais coisas "sadias e edificantes". Agora Israel ficou preocupado com a possibilidade de a tribo de Benjamim desaparecer completamente de Israel. Na sua fúria, eles tinham jurado que ninguém devia permitir que as suas filhas casassem com um benjaminita. Por isso, sendo uns idiotas completamente legalistas, eles não podiam alterar isso. Que fazer, então? Bem, um sujeito perspicaz notou que havia a cidade de Jabes-Gileade, que não tinha apetência por matar pessoas da tribo de Benjamim, portanto tinham simplesmente ficado em casa. Isto tinha sido obviamente um crime terrível, portanto o resto de Israel foi enviado para esse local. Para fazer o quê? Bem, leia isto:

"9 Quando se contou o povo, ora, eis que não havia ali nenhum homem dos habitantes de Jabes-Gileade. 10 Portanto, a assembléia passou a enviar para lá doze mil dos homens mais valentes e a ordenar-lhes, dizendo: "Ide, e tendes de golpear os habitantes de Jabes-Gileade com o fio da espada, até mesmo as mulheres e os pequeninos. 11 E esta é a coisa que deveis fazer: Todo macho e toda mulher que já teve a experiência de se deitar com um macho deveis devotar à destruição." 12 No entanto, acharam dentre os habitantes de Jabes-Gileade quatrocentas moças, virgens, que nunca tiveram relações com algum homem, deitando-se com um macho. Trouxeram-nas, pois, ao acampamento em Silo, que se acha na terra de Canaã.

"13 E toda a assembléia mandou então falar aos filhos de Benjamim que estavam no rochedo de Rimom e oferecer-lhes paz. 14 Concordemente, Benjamim voltou naquele tempo. Deram-lhes então as mulheres que preservaram vivas dentre as mulheres de Jabes-Gileade; mas não acharam bastante para eles." (Juízes 21:9-14)

Mais uma vez os israelitas demonstraram o seu amor e compaixão pelas mulheres. Como não podiam voltar atrás na sua estúpida promessa, era muito mais conveniente matar mães, pais e crianças do sexo masculino à vista das jovens raparigas e bebês do sexo feminino, e levá-las embora para "oferecê-las" à adorável tribo de Benjamim. Mas, alas!, não havia virgens suficientes para todos, portanto o que deviam eles fazer? Leiamos mais:

"19 Por fim disseram: "Eis que há de ano em ano uma festividade de Jeová em Silo, que se acha ao norte de Betel, para o leste da estrada principal que sobe de Betel a Siquém, e para o sul de Lebona." 20 Ordenaram assim aos filhos de Benjamim, dizendo: "Ide, e tendes de ficar de emboscada nos vinhedos. 21 E tendes de olhar, e eis aí, saindo as filhas de Silo para dançar em rodas, então tendes de sair dos vinhedos e tendes de arrebatar para vós, cada um a sua esposa dentre as filhas de Silo e tendes de ir para a terra de Benjamim."" (Juízes 21:19-21)

Enfim, pelo menos desta vez eles não mataram toda a gente que encontraram pela frente. Nem sequer é mencionado que estas mulheres a serem raptadas deviam ser virgens, provavelmente porque seria um pouco difícil apurar isso durante a azáfama de um rapto. É em vão que nos interrogamos sobre o tipo de atitude que estas pessoas tinham para com a vida humana, para com as mulheres e em particular para com as mulheres que tinham perdido a sua virgindade. As vidas delas pareciam ser completamente sem valor.

A doutrina das Testemunhas de Jeová sobre o maior de todos os holocaustos parece agora muito mais compreensível, quando vemos onde eles vão buscar a sua inspiração. Há muito mais coisas deste tipo na Bíblia. Agora que penso nisso, posso igualmente ouvir Black Sabbath ou algo do gênero, em comparação é muito mais edificante.


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